"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

domingo, 21 de maio de 2017

Do Império Celta ao Império Assírio X

Déjoces quisera fazer dos medos uma nação. Seu filho Fraorte, ao mesmo tempo que pagava à Assíria tributo de vassalagem, continuava aquela obra submetendo as tribos persas. Com paciência, preparava a luta contra a Assíria.

Deve-se ligar a esse impulso nacional de um povo ariano a prédica de um filósofo medo que, reformando a religião oficial, o masdeísmo, fez dela uma religião de salvação?

Decoração em tumba da religião zoroastrista. 
Província de Sulaymanyah

Zaratustra nascera entre os magos. Após dez anos de solitária meditação, teve a revelação de uma fé depurada cuja doutrina emanava tanto das misérias populares quanto do desejo de unidade que animava o Irã: Zaratustra pedia ao deus Masda que pusesse fim à anarquia feudal tão nefasta ao povo. Pensando ser chegado o momento de agir, o Rei Fraorte lançara-se contra a Assíria - tentativa prematura, pois os medos foram esmagados.

Seu sucessor, o General Ciaxares, foi por seu turno forçado a se dobrar numa prudente vassalagem.

Mas desde -633 esse esforço nacional possuía para os medos o valor de uma tradição. Zaratustra traduzia a confiança deles no futuro. Enquanto o mundo oriental vivia na angústia e nos cemitérios medos, os abutres retalhavam os corpos expostos nas torres, um pensamento se elevava do Irã, como as chamas que no alto das colinas glorificavam o deus ariano da luz - os clarões do petróleo em fogo iluminavam muitas vezes as noites desse país onde sobeja a nafta.

Zaratustra reduzia o ritual à beberagem sagrada que o sacerdote tomava, à água benta e à oferenda dos pães. Suas tendências monoteístas aproximavam-se das do Egito: como este, ele pesava os valores morais na balança das ações que seriam creditadas à alma imortal no curso de suas futuras etapas, inferno, purgatório e paraíso. Zaratustra exaltava o esforço indispensável ao triunfo do bem na luta contra o mal, celebrava o reinado de Deus, o julgamento final que o realizaria e anunciaria um Messias libertador.

Em torno dessa fé, um povo inteiro cobrava esperança: no planalto iraniano, Ciaxares forjava o instrumento do revide, seu exército.

Nesse momento, em eco longínquo para o trágico Oriente assírio, piratas malaios haviam atacado os ainos no Japão e o chefe do clã malaio vencedor fora feito imperador por seus homens após a batalha. Djimon fundara assim a "divina" dinastia japonesa. Esses piratas eram selvagens. Mongóis juntaram-se a eles.

Mas acabavam de se organizar duas forças que desfeririam na barbárie golpes sucessivos: a cavalaria meda e o gênio grego.

RIBARD, André. A prodigiosa história da humanidade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1964. V. 1. p. 84-5.

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