"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Dos descobrimentos à colonização - Parte 3

[A colonização europeia do continente americano]


Carta geográfica da Nova França, 1612, Samuel de Champlain 

Foi nas Américas que a iniciativa colonizadora dos europeus tomou maior impulso. As riquezas procuradas nas Índias e finalmente descobertas no novo continente atraíram a Europa cada vez mais para as terras do Atlântico.

Franceses
Na América do Norte ocupam, no início do século XVII, regiões do atual Canadá. Posteriormente fundam Québec (1608) e Montreal (1642). Em meados do século XVII expandem-se em direção ao sul dos atuais EUA, descendo o rio Mississipi até o Golfo do México; fundam a colônia da Luisiana, em homenagem a Luís XIII, rei da França, e a cidade de Nova Orléans (1731).

Na América Central estabelecem-se, a partir dos meados do século XVII, nas Antilhas (atuais Haiti, República Dominicana, Guadalupe, Martinica e em outras pequenas ilhas).

Na América do Sul um grupo de protestantes franceses, fugindo a perseguições religiosas em seu país, tentam, sem êxito, estabelecer-se no Brasil fundando a França Antártica (1555) na Ilha de Villegaignon, na baía de Guanabara. Outro grupo análogo funda (1612), no Estado do Maranhão, a França Equinocial, na ilha que batizaram de São Luís em honra ao rei Luís XIII. Expulsos do Brasil, fixam-se na atual Guiana Francesa, fundando Caiena.

Na América do Norte, no Canadá, incorporando à Coroa com o nome de Nova França, exploram intenso comércio de peles, a caça, a pecuária, a agricultura produzindo trigo e forragem (cereais) e gramíneas para alimentação de animais. Na Luisiana cultivam arroz e tabaco.

Nas Antilhas cultivam tabaco, cana-de-açúcar, algodão, em seguida café, cacau, anileira (para produção de substância corante), servindo-se, como na Luisiana, do trabalho de escravos africanos. O comércio de produtos coloniais era monopólio de portos franceses do Atlântico (Ruão, Nantes, La Rochelle e Bordeaux).

Ingleses
Na América do Norte fundam (1584) a primeira colônia que recebeu o nome de Virgínia em honra à rainha Elisabete I, cognominada a Rainha-Virgem.

Um grupo de protestantes ingleses, chamados puritanos, fugindo a perseguições religiosas em seu país, emigram para o continente americano fundando Plymouth e a colônia de Massachusetts. Sucedem-se vários grupos colonizadores, de católicos e de protestantes, dando origem a novas colônias, as quais se agrupam em uma confederação. Até meados do século XVIII a confederação englobava 13 colônias, controladas pela Coroa, mas com certa autonomia local. No século XVIII, como ocorreu na Ásia, os ingleses entram em choque com os colonos franceses e a França é obrigada a renunciar a suas pretensões na América do Norte.

Na América Central tomam pé, até o século XVIII, nas Antilhas ocupando Barbados, as Bahamas, as Bermudas, Jamaica, Antígua e outras.

Na América do Sul estabelecem-se no século XVIII nas Guianas.

Na América do Norte, nas colônias setentrionais (New Hampshire, Massachusetts, Rhode Island, Connecticut) desenvolvem, em pequenas propriedades, culturas várias (milho, trigo, legumes, macieiras). Dedicam-se à criação de gado, à pesca, à extração de madeiras, à produção de peixe salgado, carne-seca e rum. Nas colônias do centro (Nova York, New Jersey, Pennsylvania, Delaware) desenvolvem, em pequenas e grandes propriedades, o cultivo do trigo, a produção de farinhas, a extração de madeiras, a construção de navios. Nesta região estabelecem-se os comerciantes. Nas colônias do sul (Maryland, Virgínia. Carolina do Sul, Carolina do Norte, Geórgia) domina a grande propriedade, em base de trabalho escravo. Cultivam-se o tabaco, o arroz, mais tarde o algodão (séc. XVIII), e cria-se gado.

Nas Antilhas, com o concurso da mão-de-obra africana, desenvolvem as lavouras de cana-de-açúcar e mantêm intenso comércio com a América espanhola e suas próprias colônias na América do Norte.

Holandeses
Na América do Norte um grupo de protestantes, fugindo a perseguições religiosas nos Países Baixos, funda (1623) o núcleo de Nova Amsterdã (origem de Nova York), que perdem, logo depois (1664), para os ingleses.

Na América Central estabelecem-se nas Antilhas, na Ilha de Curaçao e em outras menores.

Na América do Sul, através da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, tentam estabelecer-se no nordeste do Brasil, antes na Bahia (1624), depois em Pernambuco (1630), onde fundam a colônia da Nova Holanda, de onde são expulsos em 1654. Os holandeses conseguem fixar-se nas Guianas (séc. XVII).

A base da economia holandesa era a cana-de-açúcar, cultura desenvolvida nas Antilhas.

Espanhóis
Na América do Norte, a partir da conquista de Cortés no México, penetram no século XVI em vastas zonas do sul e sudoeste dos atuais EUA (Califórnia, Novo México, Texas, Flórida), formando o Vice-Reinado da Nova Espanha, com capital Cidade do México.

Na América Central ocupam (séc. XVI) praticamente toda a área do continente, dominam nas Antilhas Cuba, Porto Rico, Trinidad e Jamaica (esta última perdida para os ingleses no séc. XVII).

Na América do Sul, a partir da conquista de Pizarro no Peru, ocupam todas as terras ao longo do Oceano Pacífico (à exceção da Patagônia), formando o Vice-Reinado do Peru, compreendendo territórios dos atuais Peru, Bolívia e Chile, com capital em Lima. No século XVIII criam o Vice-Reinado de Nova Granada, compreendendo territórios dos atuais Equador, Colômbia, Venezuela, Panamá, com capital Bogotá. Estabelecem-se em regiões dos atuais Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia, formando o Vice-Reinado do Prata, com capital Buenos Aires.

A penetração do continente americano foi estimulada pela busca e exploração de jazidas de ouro e de prata. Já a partir do século XVI exploram em larga escala as minas de ouro do México e as de prata de Potosí (na atual Bolívia). Na região dos pampas argentinos introduzem o gado bovino e ovino (carneiros), desenvolvendo o comércio de lã e de couro. Desenvolvem também a agricultura explorando plantas nativas (tabaco, milho, mandioca, algodão) e outras provenientes da Europa (limoeiro, laranjeira, vinha, trigo, cânhamo) ou do Oriente (amoreira, cana-de-açúcar, cafeeiro).

Portugueses
Na América do Sul possuem regiões do atual Brasil, com Salvador como capital. Até o fim do século XVIII ultrapassam a linha de Tordesilhas, penetram e ocupam vastos territórios, dando à colônia uma forma geográfica que correspondia aproximadamente à forma do Brasil atual, transferindo a capital para o Rio de Janeiro.

A base da economia portuguesa era essencialmente agrícola. De início a extração da madeira pau-brasil, em seguida o plantio intensivo da cana-de-açúcar. Desenvolvem o cultivo de plantas nativas (milho, mandioca, tabaco, algodão, cacau, baunilha, canela); introduzem o arroz e o linho. Desenvolvem também, a partir do século XVI, a criação de gado bovino e cavalar em várias regiões de sua colônia; iniciam o comércio de couros. No século XVII descobrem e exploram jazidas de ouro (no atual Estado de Minas Gerais) e de diamantes (nos atuais Estados de Goiás e de Mato Grosso).

HOLLANDA, Sérgio Buarque de (org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974. p. 186-188.

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