"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

domingo, 13 de setembro de 2015

Nazcas. Mochicas. Tiahuanaco e Chimu

Poncho Nazca, ca. 400-500. Artesão desconhecido

Cerca de 500 a.C., várias culturas regionais começaram a suplantar a cultura Chavín, do Peru. O povo Paracas, que floresceu na costa sul do Peru entre 500 a.C. e 200 d.C., adotou muitos elementos da iconografia Chavín, inclusive as representações de felinos que aparecem em sua cerâmica. O clima seco, que possibilitava a mumificação dos cadáveres, preservou também belos tecidos de decoração exuberante, com criaturas míticas e animais fantásticos. O maior depósito de múmias, cerca de 430 delas, foi encontrado em Wari Kayan, na península de Paracas, todas revoltas em tecidos e acompanhadas de oferendas fúnebres, como ornamentos em ouro.

* Os Nazcas. A cultura Nazca floresceu no sul do Peru de cerca de 200 a.C. a 500 d.C. Embora fossem em sua maioria habitantes de aldeias, os nazcas chegaram a construir complexos arquitetônicos impressionantes, como o monumental centro religioso em Cahuachti, por volta de 100 d.C. Embora seus tecidos, trabalhos em metal e cerâmica fossem de alta qualidade, eles são mais conhecidos pelos desenhos que fizeram no deserto. Os nazcas criaram uma gama de imagens de animais e representações abstratas retirando pedras da superfície do deserto e expondo o subsolo para criar as linhas. Os desenhos, alguns dos quais têm muitos quilômetros de extensão, só podem ser vistos completamente do alto. Entre eles estão a figura de um beija-flor sugando néctar de uma planta e a de um macaco com a cauda enrolada. Seu propósito permanece desconhecido.

* Os Mochicas. Os vales do norte do Peru passaram a ser dominados pelos mochicas em cerca de 100 d.C. Artesãos talentosos, eles construíram também grandes pirâmides, conhecidas como huacas, e são notáveis por seus delicados tecidos, trabalhos em metal e cerâmica. A partir de Huaca del Sol, possivelmente o centro de irradiação dessa cultura, os mochicas desenvolveram uma sociedade predominantemente agrícola. Mais tarde, por volta de 300 d.C., surgiram centros urbanos maiores. Esse povo se expandiu para regiões do sul, e há indicações de atividades guerreiras, frequentemente representadas na decoração de cerâmica. No final do séc. VI d.C., desastres ambientais como secas e inundações parecem ter minado a estabilidade desse povo, e sua civilização entrou em colapso. PARKER, Philip. Guia ilustrado Zahar. história mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 157.


Cocar mochica com ornamentos de Condor. Artista desconhecido

* Tihuanaco e Chimu. No território da atual Bolívia, perto do lago Titicaca, encontram-se as ruínas de templos, muralhas, estátuas e outras construções de pedra. Pertenceram à cidade de Tiahuanaco, um centro religioso que, entre os anos 600 e 1000, atraiu milhares de pessoas, habitantes da região dos Andes.


Objetos de Tihuanaco, ca. 800-1200. Artistas desconhecidos

O local é inóspito com frio intenso, ventos fortes, geadas, mudanças bruscas de tempo, ciclos de seca alternados com grandes chuvas e inundações avassaladoras. Além disso, está a 3,8 mil metros de altitude. Para enfrentar essas dificuldades naturais, o povo de Tihuanaco cultivou espécies resistentes de batata, quinoa (um cereal semelhante ao arroz) e milho, construiu canais de irrigação e desenvolveu formas de conservação dos alimentos. Criou lhamas e alpacas, que, além de fornecerem leite, lã e carne, adubavam a terra com seu estrume.

"Com base em pesquisas arqueológicas concluiu-se que as populações costeiras do norte e do sul reagiram de forma diferente à influência de Tiahuanaco. Os mochicas, guerreiros e agressivos, não estavam dispostos a abrir mão do controle que exerciam sobre todo o litoral norte e resistiram energicamente. Acredita-se que, depois de derrotados, teriam migrado para os vales mais setentrionais, como os de Lambayeque e Piúra, onde conservaram as principais características de sua civilização, as quais reapareceriam modificadas nas culturas de Chimu. Já as populações de Nazca, em um processo inverso, parecem ter sido facilmente assimiladas, e sua cultura desapareceu para sempre." (História das Civilizações. São Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 24.)

Desconhecem-se as causas do fim de Tihuanaco. A cidade já havia desparecido quando os chimus, no norte do Peru atual, consolidaram a conquista de seu Império. Por mais de trezentos anos (entre 1100 e 1470), os chimus dominaram diversos povos que viviam em uma faixa de mil quilômetros ao longo do litoral do Peru.


Manto chimu (detalhe). Artesão desconhecido

Em seu apogeu, a capital chimu, Chan-Chan, tinha cerca de 50 mil habitantes. Era formada por dez cidadelas (centros fortificados), cada uma contendo espaços cerimoniais, cemitérios, campos de cultivo murados, pirâmides etc. Muitos muros e paredes foram decorados com frisos em relevo feitos de barro, que reproduziam desenhos geométricos e figuras marinhas estilizadas.

Os chimus alcançaram um grande desenvolvimento metalúrgico, criando diversas técnicas para trabalhar o bronze, o cobre, a prata e o ouro. Foram também notáveis engenheiros hidráulicos. Abriram canais de irrigação, construíram cisternas para captação de água da chuva e ergueram diques para conter inundações.


Figura chimu, têxtil, ca. 1100-1550. Artesão desconhecido

Por volta de 1470, o Império Chimu caiu sob o domínio dos incas, Como eles estavam mais interessados em expandir seus domínios do que em acumular tesouros ou capturar escravos, as obras dos chimus não foram destruídas. No entanto, chuvas fortes e inundações devastadoras danificaram seriamente as construções de barro dos chimus. Os ladrões de tumbas completaram a destruição.

Referências:
HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES. São Paulo: Abril Cultural, 1975.
PARKER, Philip. Guia ilustrado Zahar. história mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
RODRIGUE, Joelza Ester. História em documento: imagem e texto. São Paulo: FTD, 2002.

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