"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A era do absolutismo: O desafio da Inglaterra ao absolutismo no século XVII

Carlos II dançando em um baile na Corte, Hieronymus Janssens

Tal como na França, o absolutismo na Inglaterra evoluiu do Estado Moderno a partir da dinastia Tudor (Henrique VII, Henrique VIII, Maria Tudor, Elisabete I) e se impôs na dinastia Stuart (Jaime I, Carlos I, Carlos II, Jaime II).

Com a morte da rainha Elisabete I a coroa inglesa passou ao rei da Escócia, Jaime I, e pela primeira vez os reinos da Inglaterra e da Escócia se uniram para formar a Grã-Bretanha. Durante o reinado de Jaime I, mas sobretudo no reinado de seu sucessor Carlos I, a Inglaterra voltou a ser agitada pelas questões religiosas às quais se juntaram questões sociais e econômicas. Essas agitações acabaram conduzindo a uma guerra civil entre duas facções: de um lado o rei (decidido a governar com amplos poderes, ignorando o Parlamento), a Igreja Anglicana (fiel ao soberano), a aristocracia (desejosa de manter seus privilégios); do outro lado, os chamados puritanos, protestantes calvinistas, defensores de um Parlamento ativo e dos direitos da burguesia.

As forças dos puritanos, chefiadas por Oliver Cromwell, infligiram pesadas derrotas aos exércitos de Carlos I que, tomado prisioneiro, foi acusado de ter sido omisso em seus deveres, submetido a processo e decapitado (1649). A execução de um monarca, fato até então inédito na Europa moderna, mostrava claramente a intolerância do povo em face do regime absolutista.

Após a morte do rei, a Inglaterra tornou-se uma república, dirigida com poderes plenos por Cromwell, que se intitulou Lorde Protetor. Cromwell, graças ao apoio que deu à marinha e ao comércio ingleses, através do Ato de Navegação, assegurou o domínio dos mares e o controle de vasta rede mercantil que permitirão à Inglaterra ser a grande potência do século XVIII.

Após a morte de Oliver Cromwell (1658) seguiu-se durante mais de um ano uma fase de agitações militares que não puderam ser contidas pelo novo Protetor Richard Cromwell, filho de Oliver. Em 1660, por decisão do Parlamento, a monarquia foi restaurada na Inglaterra, ocupando o trono Carlos II (1660) que casando com a princesa portuguesa D. Catarina de Bragança, recebeu um dote, para seu país, Tânger e Bombaim. Sua tentativa de restabelecer o catolicismo e o absolutismo foram prosseguidas, à sua morte, por Jaime II seu irmão e sucessor (1685-1688) que, depois de levar muitos ingleses a exilar-se, acabou provocando a chamada Revolução Gloriosa (1688-1689).

Depondo o rei, o Parlamento ofereceu a coroa da Inglaterra a Guilherme de Orange, príncipe holandês, genro de Jaime II, e que subiu ao trono com o nome de Guilherme III. O Parlamento, porém, exigiu garantias não só religiosas como civis, as quais foram concedidas por Guilherme III através da Declaração de Direitos. Por essa declaração foram confirmados os direitos pessoais dos cidadãos e ficou estabelecido que o poder das leis é superior ao poder dos reis, dando assim ampla autonomia ao Parlamento. À Declaração de Direitos seguiu-se um edito de tolerância garantindo liberdade de culto à nação inglesa, restringindo, porém, os direitos políticos de católicos e judeus que não podiam ocupar cargos públicos.

Guilherme III, desenvolvendo as liberdades democráticas através de um governo orientado por um parlamento, permitiu à Inglaterra surgir, no cenário mundial da época, como a nação politicamente mais avançada.

HOLLANDA, Sérgio Buarque de (Org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974. p. 199-200.

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