"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 7 de julho de 2015

O legado cartaginês

O declínio do Império Cartaginês, William Turner

Os múltiplos contatos de ordem econômica que os cartagineses estabeleceram entre diversos povos da bacia mediterrânea resultaram em intercâmbio cultural intenso que contribuiu para a difusão da civilização. [...] Antes de mais nada, os cartagineses podem ser considerados como propagadores do alfabeto fenício ou, pelo menos, da ideia de um alfabeto consonântico. Assim, é que, provavelmente, podemos atribuir a origem das antigas escritas líbicas ao alfabeto púnico. [...]

É interessante notar a influência multissecular, mesmo depois da data fatídica de 146, da civilização cartaginesa nos berberes. G. H. Bousquet, analisando essa influência acentua que Cartago foi, para os berberes, durante séculos "o único farol de uma civilização superior" e indica alguns pontos em que provavelmente se fez sentir tal influência: língua, artes e religião." [...]

Denise Paulme, estudando as civilizações africanas, assinala as relações dos cartagineses com os garamantes, os predecessores imediatos e, numa medida difícil de determinar, antepassados dos tuaregues. Na época de Cartago, caravanas de garamantes transportavam através do deserto do Saara, para as cidades do litoral mediterrâneo, penas e ovos de avestruz. marfim e escravos recolhidos na África Central, ouro em pó do Sudão. Assim, durante séculos, o interior africano esteve em contato permanente com o litoral e sofreu, sem dúvida, o benfazejo influxo dos centros civilizados.

Concluamos com a curiosa observação de que o nome dado ao continente, África, é de origem púnica e era reservado, no Império Romano, para a província de Cartago. "Ainda hoje, os árabes chamam Ifrikia o país que chamamos Tunísia. Como explicar, sem uma influência profunda e durável sobre as regiões situadas ao sul do Saara, a sorte prodigiosa de um nome que se estendeu dos púnicos ao continente inteiro à medida que se avançava na descoberta do mesmo?"

GIORDANI, Mário Curtis. História da antiguidade oriental. Petrópolis: Vozes, 2012. p. 242-244.

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