"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sábado, 4 de outubro de 2014

Povos da Oceania: os australianos

Pōtatau Te Wherowhero, chefe Waikato, Giles e Merrett

Os australianos, que pertenciam a um nível um pouco superior, raça formada por uma mistura de elementos europóides e negróides, encontravam-se no estádio paleolítico europeu do Moustier. De pele morena, ou cor de chocolate, com o corpo coberto de pêlos, as arcadas supraciliares enormes, a testa deprimida e fugidia, os maxilares salientes, a boca grossa, o nariz largo, tinham um cérebro nitidamente inferior em peso e desenvolvimento ao dos brancos.

Vestidos sumariamente, sabiam, entretanto, construir cabanas de ramos, fazer fogo por meio da rotação rápida de um furador numa tábua. Dispunham de armas de pedra, desde o coup-de-poing lascado do Moustier com a lança neolítica, a azagaia e o famoso boomerang, mas ignoravam o arco e a flecha, assim como a cerâmica, aliás. Viviam da coleta e principalmente da caça: caracóis, ameijoas de água doce, lagartas, aves, cangurus, lagartos, opossuns e uma espécie de avestruz, a ema. Aliás, sabiam obrigar um canguru a correr e descobrir a pista da caça, farejando a terra.

A sua organização social era mais elevada. A tribo tinha chefes permanentes, os anciãos; dividia-se em grupos, com a regra imperiosa do casamento fora do grupo; possuía territórios de percurso distinto das outras tribos; havia, portanto, um direito internacional.

As concepções religiosas eram desenvolvidas. A crença na sobrevivência da alma era geral. Os espíritos dos mortos podiam reencarnar-se: os primeiros europeus, seres que saíram do mar, de pele pálida, olhos brilhantes (por causa do desenvolvimento maior do sistema nervoso), encheram os australianos de um terror físico e foram tomados por fantasmas. Os australianos prestavam regularmente honras fúnebres aos mortos. Algumas tribos até comiam os cadáveres para assimilarem o seu princípio vital. Todas possuíam o seu totem, ou antepassado comum, cujos descendentes celebravam fraternalmente cerimônias mágicas. Alguns concebiam um deus imortal que subira ao céu depois de ter vivido na terra e ao qual os iniciados iam juntar-se, quando morriam. Todos conheciam a magia. Os jovens ficavam aptos a casar-se e a exercer funções sociais mediante uma iniciação complicada que compreendia a extração de um incisivo superior, a circuncisão, apresentação de desenhos e narrativas míticas mantidas em segredo para as mulheres.

Os outros povos encontravam-se em níveis nitidamente superiores. Se excetuarmos os papuas, de nariz adunco, de ponta grossa em forma de bico e que pareciam uma raça pura, julga-se, hoje, pelo estudo das línguas e de certos hábitos materiais, como a piroga da balancim, que todos estes povos, apesar das suas diferenças, participavam da mesma cultura oceânica e tinham todos a mesma origem. Seriam provindos da Malásia, donde se teriam espalhado para leste, por todo o Pacífico e talvez até a América, a oeste de Camboja para Ceilão, Madagáscar (Hovas), assim como pela costa leste da África. As migrações desses povos teriam começado entre os séculos II e V d.C., atingindo o apogeu entre 900 e 1350. Seguidamente, verificou-se o declínio dessas populações, assim como de suas aptidões para a navegação.

MOUSNIER, Roland; LABROUSSE, Ernest. O século XVIII: o último século do antigo regime. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 375-376. (História geral das civilizações, v. 11)

NOTA: O texto "Povos da Oceania: os australianos" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

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