"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 18 de abril de 2014

O grande incêndio de Roma

O incêndio de Roma, 18 de julho de 64, Hubert Robert

Na noite de 18 de julho de 64, um incêndio atiçado por um vento violento surge perto do Circo Máximo em Roma e se propaga em direção ao Palatino, ao Fórum, ao Quirinal e ao Esquilino. Acordados bruscamente de seu sono, os romanos transtornados se espalham pelas ruas e obstruem o trabalho dos vigias (bombeiros) que se esforçam em vão para deter o sinistro. Ausente de Roma, Nero retorna a toda pressa e, sem tardar, toma medidas de urgência, abrindo seus jardins do Vaticano para abrigar os sinistrados. No fim de sete dias, o incêndio é detido aos pés do Esquilino. Mas, imediatamente, novos fogos surgem em outros locais. Depois de nove dias, o fogo é finalmente dominado, após ter devastado 10 dos 14 bairros da cidade.

O incêndio destruiu várias centenas de casas particulares, 10 mil imóveis de aluguel, venerandos monumentos, coleções inestimáveis de obras de arte e manuscritos. Vinte mil romanos estão desabrigados, mas ignora-se o número de mortos e feridos. Rapidamente todos se perguntam sobre o responsável dessa catástrofe e um nome surge com insistência: o do próprio imperador. Para alguns, Nero teria querido destruir uma parte da cidade para reconstruir uma nova Roma mais bela. Para outros, ele teria buscado a inspiração para compor um poema sobre a tomada de Troia. Ficando com medo, Nero designa como bode expiatório a seita dos cristãos, acusando-a de ter, por sua impiedade, provocado a ira divina. Cerca de 200 cristãos são condenados, crucificados e transformados em tochas vivas nos jardins do Vaticano.

É praticamente certo que o imperador não é o responsável pela catástrofe de 64. O fogo surgiu sem dúvida acidentalmente no bairro dos armazéns que estoca óleo, trigo e madeira, e se propagou por causa do vento. Além disso, em pleno verão, as reservas de água eram reduzidas. Entretanto, a lenda do imperador piromaníaco não vai desaparecer tão cedo!

SALLES, Catherine (dir.). Larousse das civilizações antigas 3: das Bacanais a Ravena. São Paulo: Larousse do Brasil, 2008. p. 265.

NOTA: O texto "O grande incêndio de Roma" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

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