"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 31 de março de 2014

Safo de Lesbos

Σαπφώ

Busto de Safo. Cópia romana de um original grego. Início do século V a.C. Artista desconhecido

I - Assim como os filósofos e artistas, os poetas e dramaturgos gregos também deram expressão ao desabrochar do indivíduo e ao surgimento dos valores humanistas. Uma das primeiras e mais inspiradas poetisas gregas foi Safo, que viveu por volta de 600 a.C. na ilha de Lesbos. Safo fundou uma escola onde ensinava música e canto a meninas ricas e as preparava para o casamento. Com grande ternura, escreveu poemas de amizade e amor.  (PERRY, Marvin. Civilização ocidental: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 70.)

“Há quem afirme serem nove as musas. Que erro!
Pois não vêem que Safo de Lesbos é a décima?”

Platão

II - Poco se sabe de Safo.

Dicen que nació hace dos mil seiscientos años, en la isla de Lesbos, que por ella dio nombre a las lesbianas.

Dicen que estaba casada, que tenía un hijo y que se arrojó desde un acantilado porque un marinero no le hizo caso, y también dicen que era petiza y fea.

Quién sabe. A los machos no nos cae muy bien eso de que una mujer prefiera a otra mujer, en vez de sucumbir a nuestros irresistibles encantos.

En el año 1703, la Iglesia Católica, bastión del poder masculino, mandó quemar los libros de Safo.

Algunos poemas, pocos, se salvaron. (GALEANO, Eduardo. Espejos: una historia casi universal. Buenos Aires: Siglo XXI & Siglo XXI Iberoamericana, 2006. p. 50-1.)


Safo e Alceu, Sir Lawrence Alma-Tadema

III - Concebeu Safo uma escola para moças, onde lecionaria a poesia, dança e música - considerada a primeira "escola de aperfeiçoamento" da história. Ali as discípulas eram chamadas de hetairai (amigas) e não alunas. A mestra apaixona-se por suas amigas, todas. Dentre elas, aquela que viria a tornar-se sua maior amante, Atis - a favorita, que descrevia sua mestra como vestida em ouro e púrpura, coroada de flores. Mas Atis apaixona-se por um moço e, com ciúmes, Safo dedica-lhe os versos:

"Semelhante aos deuses parece-me que há de ser o feliz
mancebo que, sentado à tua frente, ou ao teu lado,
te contemple e, em silêncio, te ouça a argêntea voz
e o riso abafado do amor. Oh, isso - isso só - é bastante
para ferir-me o perturbado coração, fazendo-o tremer
dentro do meu peito!
Pois basta que, por um instante, eu te veja
para que, como por magia, minha voz emudeça;
sim, basta isso, para que minha língua se paralise,
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
a incendiar-me as entranhas.
Meus olhos ficam cegos e um fragor de ondas
soa-me aos ouvidos;
o suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor (…)

A aluna foi retirada da escola por seus pais, e Safo escreve que "seria bem melhor para mim se tivesse morrido". (Wikipédia)

Safo e Erina em um jardim em Mitilene, Simeon Solomon

IV - Safo foi uma poetisa que floresceu em um período muito antigo da literatura grega. De suas obras, poucos fragmentos restam, mas são suficientes para assegurar-lhe um lugar entre os grandes gênios poéticos da humanidade. Um caso a que frequentemente se faz alusão, com referência a Safo, é o de que ela se apaixonou por um belo jovem chamado Faonte e, não sendo retribuída em seu afeto, atirou-se do promontório de Leocádia ao mar, de acordo com uma superstição segundo a qual quem desse aquele “Pulo do Amante”, se não morresse, ficaria curado de seu amor.

Byron faz alusão a Safo, no Canto II do “Childe Harold”:

Velejou Childe Harold e a desolada
Plaga de onde Penélope fitava,
Saudosa, as ondas, visitou depois.
E, mais adiante, contemplou o monte,
Lembrando túmulo da cantora Lésbia.
Sombria Safo! Os versos imortais
De tão mortal amor não te salvaram!

(BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia: histórias de deuses e heróis. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. p. 198-9.)

NOTA: O texto "Safo de Lesbos" não representa, necessariamente, o pensamento deste blog. Foi publicado com o objetivo de refletirmos sobre a construção do conhecimento histórico.

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