"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Prostituição na Antiguidade

Egito. A prostituição era praticada às margens do Nilo, mas não se sabe com que freqüência. A atividade era moralmente condenada; contudo, além das menções de favores sexuais obtidos em troca de dinheiro, encontram-se várias menções a relações sexuais coletivas em papiros ou ostraca, que não deixam dúvidas da existência de casas de prostituição.

Apesar de alguns documentos com relatos eróticos, o Egito não teve prostituição sagrada. As relações, mesmo íntimas, entre uma sacerdotisa e a divindade ocorriam no contexto da relação simbólica de um legítimo casal. (Michel Baud)

Mesopotâmia. A importância social e o papel positivo da prostituição aparecem na epopeia de Gilgamesh. Uma mulher seduz Enkidu e faz com que ele, de bruto selvagem, transforme-se em homem. Quando Enkidu está próximo da morte, amaldiçoa a prostituta que lhe tiraria a inocência. Depois, percebendo o bem que ela lhe trouxera, volta atrás. O exemplo mostra como os babilônios viam essas mulheres. A prostituição não era um setor marginalizado da sociedade mesopotâmica.

Não havia contradição entre a condição de uma prostituta ou de uma mulher dedicada aos deuses, ambas tinham escapado das regras familiares tradicionais. Assim, funcionárias de templos gerenciavam casas de prostituição, e Nanaya, deusa de Uruk, era associada ao erotismo e sexualidade. (Antoine Cavigneaux)

Mundo greco-romano. De acordo com o direito ateniense, o homem que se prostituía (em uma relação homossexual) perdia a capacidade de exercer uma função pública e de freqüentar locais públicos. A violação era punida com a morte. A razão dessas regras está no papel social desempenhado pela pederastia.

Hetaira urinando dentro de um skyphos. Cerâmica, ca. 480 a.C.

Já a prostituição feminina não era punida, pois cumpria uma função útil, a de evitar o adultério. Havia várias formas de se prostituir, e a mais depreciada era a das mulheres que se vendiam na beira das estradas e em bordéis. Aquelas que acompanhavam os homens na sociedade (fechada às mulheres honestas) e tinham certa educação (da qual as mulheres em geral eram privadas) eram chamadas “acompanhantes”. Diante de alguns templos (e em proveito deles), a prostituição sagrada era praticada, mas não há indícios disso em Atenas.

Cliente e prostituta. Cerâmica, ca. 480-470 a.C.

Pelas mesmas razões, a prostituição feminina sempre foi tolerada em Roma. Mas a prostituta era objeto de reprovação social. A prostituição masculina foi proibida por volta da metade do século III d.C. A constituição imperial de 390 d.C. estabelecia que fossem queimados vivos os homens que se prostituíssem nos bordéis da cidade. (Eva Cantarella)


In: BETING, Graziella. Coleção história de A a Z: [volume] 1: antiguidade. Rio de Janeiro: Duetto, 2009. p. 24.

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