"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Mesopotâmia: os arquitetos

"O berço do mundo" foi como o rei Nabucodonosor chamou a cidade da Babilônia. Esta primeira cidade foi o berço da arte e da arquitetura antigas, bem como o local dos Jardins Suspensos e da Torre de Babel.

Os autores bíblicos viam a magnífica Torre de Babel, de noventa metros de altura, como um emblema da arrogância humana tentando chegar ao céu. O historiador grego Heródoto descreveu-a como um amontoado de oito torres empilhadas, com 120 leões em cerâmica vitrificada vivamente colorida conduzindo a portões de metal maciço. Uma escada em espiral externa levava ao topo da torre, onde um santuário interno continha um sofá e uma mesa de ouro ricamente adornados. Os babilônios diziam que era a câmara em que seu deus dormia.

"Torre de Babel", Bruegel, o Velho

Os Jardins Suspensos, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, eram igualmente grandiosos. Consistiam em uma série de quatro terraços de tijolos erguendo-se sobre o rio Eufrates, com árvores e arbustos de flores luxuriantes se debruçando sobre a cidade. Alguns acreditam que a Mesopotâmia abrigava um jardim histórico ainda mais famoso - o Jardim do Éden.

Em 3500 a.C., os sumérios, primeiros habitantes dessa região, dominaram as técnicas de irrigação e de controle do fluxo de água a ponto de criar um oásis fértil em meio às planícies arenosas que hoje constituem o Iraque. Instalados entre os rios Tigre e Eufrates, inventaram a cidade-estado, a religião formal, a escrita, a matemática, as leis e muito da arquitetura.

Usando o tijolo seco como bloco básico da construção, os mesopotâmicos planejaram cidades complexas ao redor do templo. Esses amplos complexos arquitetônicos incluíam não só um santuário fechado, mas também oficinas, armazéns e zonas residenciais. Pela primeira vez a vida era regularizada, com divisão do trabalho e ações coletivas, como a defesa e os projetos de obras públicas.

O palácio de Sargão II, dominando Nínive, cobria mais de cem quilômetros quadrados e continha mais de duzentos aposentos e jardins, uma bela sala do trono, haréns, áreas de serviço e da guarda. Situado num outeiro artificial de 15 metros de altura, o palácio ocupava cerca de 1.600 metros quadrados da cidade. Seu ponto mais alto era um zigurate (torre em forma de pirâmide), um grande templo de tijolos de sete andares de seis metros de altura cada um, e cada um pintado de uma cor diferente. A imensa altura dos zigurates refletia a crença de que os deuses habitavam as alturas. Foi destruído por volta de 600 a.C.

Além da arquitetura, a forma de arte predominante da Mesopotâmia era o baixo-relevo. Combinados com a escrita cuneiforme, em forma de cunha, os entalhes descrevem escrupulosamente, cena após cena, os feitos militares.

Outro tema predileto nos baixos-relevos era a coragem pessoal do rei durante as expedições de caça. Numa caçada típica, os criados incitavam os leões à fúria e depois os soltavam da jaula, para que o rei os matasse. "A Leoa Agonizante" retrata o animal ferido, paralisado pelas flechas. As orelhas baixas e os músculos contraídos da figura transmitem a agonia da morte com um realismo convincente.

"A Leoa Agonizante", Nínive. c. 650 a.C.

STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. p. 6-7.

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