"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Imigrantes 4: Fazendo a América

Imigrantes na colheita da laranja. Limeira, São Paulo. Museu da Imigração

Originário de tradicional família salernitana, à qual pertenceram homens ilustres nas letras e nas profissões liberais, Francesco Matarazzo não viera ao Brasil como simples emigrante. Embarcado num navio a vela, em 1881, chegou ao Rio de Janeiro depois de setenta dias de viagem, com uma carga de vinhos e queijos italianos que deveria constituir a base para o início de suas atividades comerciais no Brasil. Enquanto estava tratando das práticas alfandegárias, porém uma violenta tempestade provocou o naufrágio do navio e a perda total da carga. [...]

Com seu espírito eminentemente prático e uma exata visão da realidade, aliados àquele otimismo que sempre constituiu uma de suas características principais, Matarazzo, após ter observado as modestas possibilidades econômicas da então pequena e sonolenta cidade de São Paulo, resolveu estabelecer-se em Sorocaba, centro de negócios das prósperas zonas agrícolas do interior paulista. [...]

Foi naquele ambiente favorável ao comércio, que Matarazzo iniciou suas atividades, abrindo uma pequena loja de artigos rurais. Entre os produtos mais importantes da região estavam os suínos e, trocando mercadorias por animais, Matarazzo iniciou suas atividades industriais, com a fundação de uma rudimentar fábrica de banha. [...]

Seu profundo senso de equilíbrio e sua admirável visão dos negócios, faziam com que ele construísse por graus cada novo edifício, sobre bases graníticas que poderiam definitivamente resistir a qualquer peso e desafiar qualquer circunstância. [...]

Do artigo publicado em 1930 pelo Diário de São Paulo sob o título "O estado Matarazzo", extraímos este trecho:

"Existe um novo estado brasileiro. Entre as vinte unidades da Federação, e mais o Distrito Federal e o Território do Acre, existe um estado economicamente rico como São Paulo e mais rico, como volume da riqueza, do que o erário do Distrito Federal ou de Minas ou do Rio Grande do Sul. Referimo-nos ao "Estado Matarazzo" que afortunadamente não se localiza apenas no País de Piratininga, pois abraça a geografia econômica do inteiro Brasil. Enquanto São Paulo tem uma renda bruta de 400 mil contos, Minas de 140 mil, Rio Grande do Sul de 130 mil e a prefeitura carioca de 270 mil, o parque industrial Matarazzo encaixa 350 mil contos. Não há dúvida, portanto, que o conde Francisco Matarazzo financeiramente e economicamente constitui o segundo Estado do Brasil."

CENNI, Franco. Italianos no Brasil. São Paulo: Martins, 1975. p. 207-209.

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