"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Abrindo os portões dos castelos

Construções fortificadas já eram utilizadas como postos de vigilância e defesa de centros estratégicos desde o tempo dos romanos - tanto que é do termo em latim castellum que deriva a palavra "castelo". Mas foi durante a Idade Média que o conceito se desenvolveu e surgiram as grandiosas fortalezas que sobrevivem até hoje, simbolizando o período. Os castelos foram amplamente utilizados no mundo medieval, sendo adotados, por exemplo, pelos francos na França, pelos mouros na Espanha, pelos muçulmanos no Oriente e, até mesmo, no distante Japão feudal.

Castelo Bodiam, Inglaterra


A evolução dos castelos pode ser particularmente bem observada na Grã-Bretanha, onde foram introduzidos pelos normandos, após a batalha de Hastings, em 1066 - episódio que marca o início do período de dominação do povo de origem franco-escandinava sobre os anglo-saxões. Em desvantagem numérica, os normandos tiveram que recorrer a um grande número dessas fortificações para resistir à hostilidade da população local e se manter no poder.

Os castelos serviam como base para operações militares, refúgio em meio a rebeliões, centros administrativos e moradia. Inicialmente, a maioria era do tipo motte-and-bailey. A expressão - que mistura francês e inglês e pode ser traduzida como "morro e cercas" - descreve a composição dos pequenos castelos: uma torre de madeira sobre um pequeno amontoado de terra, cercada por uma paliçada. Apesar de vulneráveis ao fogo, esses fortes tinham a vantagem de poder ser construídos às pressas.

Com a chegada do século XII e a eclosão de um grande número de guerras civis e disputas pelo poder na Grã-Bretanha, ocorreu um gradual processo de substituição da madeira pela pedra como principal material. As grandes fortalezas que passaram a ser erguidas a partir de então, começaram a tomar uma forma mais parecida com a que conhecemos hoje.

No século seguinte, foi a vez de uma nova abordagem na construção dos muros, que passaram a ser ainda mais altos e espessos (para resistir às investidas de exércitos com escadas) e dotados de torres, de onde seus defensores podiam atirar. Os portões, continuavam sendo um ponto fraco em potencial; assim, a parte mais defendida do castelo acabava sendo a entrada. Muitos portões tornavam-se castelos em miniatura, cercados de pequenas torres e protegidos por um trabalho defensivo externo conhecido como barricada.

Essa forma de construção achou sua expressão mais completa nos castelos chamados "concêntricos", que apresentavam dois circuítos de paredes, aumentando, assim, tanto os obstáculos a serem enfrentados pelo inimigo num eventual ataque quanto as chances dos defensores instalados nas torres. Esse tipo de castelo, exemplificado pelo Beaumaris, em gales, passou a ser adotado durante o reinado de Eduardo I (1272-1307), que desejava consolidar seu domínio no norte do país.

Essa crescente sofisticação dos sistemas de defesa dos castelos andava lado a lado com a evolução das estratégias ofensivas - da diplomacia aos ataques-surpresas, passando por elaborados túneis subterrâneos e pelos temíveis cercos, as fortificações tinham de resistir a toda sorte de ameaças. Isso pelo menos, até a introdução da pólvora, no final da Idade Média, que mudou para sempre a imagem dos combates no mundo todo.

Por volta dessa época, na Grã-Bretanha, com exceção de alguns focos isolados de rebelião, o clima era relativamente pacífico. Como resultado, a maioria dos castelos passou a priorizar o luxo, não a segurança. Construções como Wardour (sudoeste da Inglaterra) e Bodiam (sudeste), por exemplo, serviam muito mais para demonstrar o poder, o prestígio e o bom gosto de seus donos.

Julian Humphrys. Abrindo as portas dos castelos. In: Revista BBC História. Ano 1, Edição 4. p. 20.

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