"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Imigração, abolição e industrialização no Império

Estrada de Ferro Mauá, a primeira ferrovia do Brasil

Na segunda metade do século XIX ocorrem alguns fenômenos importantes que irão introduzir algumas modificações na estrutura econômica e social do país, contribuindo para o desenvolvimento relativo do mercado interno e estimulando o processo de urbanização. Primeiro, a transição do trabalho escravo para o trabalho livre: a cessação do tráfico em 1850 e a entrada de numerosos imigrantes no sul do país. Em segundo lugar, a instalação da rede ferroviária, iniciada em 1852 e que no final do século atingiria a mais de 9.000 km construídos e 15.000 em construção. Finalmente, as tentativas, bem-sucedidas, de industrialização e o desenvolvimento do sistema de crédito.

A partir de 1850, com a cessação do tráfico e o aumento crescente dos preços de escravos, o problema era tanto mais grave quanto a diminuição da oferta de mão de obra escrava coincidia com a expansão das lavouras cafeeiras no sul do país. As dificuldades de obtenção da mão de obra escrava estimulariam as tentativas de substituição do escravo pelo imigrante e provocariam o deslocamento de parte dos escravos das regiões decadentes do nordeste para as prósperas regiões cafeeiras. Simultaneamente se processaria a transferência da mão de obra escrava dos centros urbanos para as zonas rurais. O crescimento do setor assalariado ampliaria o mercado interno, criando uma base para o futuro desenvolvimento industrial.

O aperfeiçoamento do sistema de transportes (substituição do transporte em lombo de burro e carro de boi pelas ferrovias, a generalização do uso do navio a vapor, na segunda metade do século XIX) coincide com a demanda crescente de café pelo mercado internacional, acarretando uma especialização crescente da produção cafeeira. [...]

Desde os meados do século, imigrantes europeus começaram a entrar em número crescente no Brasil, principalmente entre 1870 e 1900, sendo que o período de maior imigração situa-se nos anos que se seguem à abolição. Só o Estado de São Paulo recebeu em pouco mais de um decênio, isto é, entre 1890 e 1901, cerca de 700.000 colonos: italianos, portugueses, espanhóis e austríacos, não contando os de outras nacionalidades. [...]

No estado de São Paulo, os imigrantes, assim que puderam, abandonaram as lavouras de café onde viviam em precárias condições. Muitos, desiludidos, voltaram à sua pátria de origem ou imigraram para outras áreas. Outros localizaram-se em núcleos urbanos, onde se dedicaram ao comércio ou artesanato, às manufaturas e aos pequenos serviços. Outros, ainda que originalmente se destinavam à lavoura, preferiram, logo ao chegar, localizar-se nas cidades. Alguns já vieram com o objetivo de se fixarem nos núcleos urbanos, como os artesãos e comerciantes ingleses e franceses que se estabeleceram na cidade do Rio de Janeiro durante o século XIX. [...]

COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à República: momentos decisivos. São Paulo: Ciências Humanas, 1979. p. 193-195.

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