"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Tumba de Mahu

O chefe de polícia Mahu se ocupa do abastecimento de seus subordinados - Tumba de Mahu, Tell-el-Amarna.


Na tumba do chefe de polícia Mahu, em Akhetaton (Tell-el-Amarna), que data do século XIV, vemos um mural representando tal funcionário ocupando-se da distribuição de víveres aos seus subordinados. À primeira vista, o que chama a atenção são as convenções da arte egípcia: as personagens de alta hierarquia (registro superior direito) são representadas em tamanho bem maior do que os homens comuns; as figuras humanas aparecem de perfil (embora com os olhos e os ombros de frente); inexiste qualquer efeito de perspectiva. E, no entanto, se observarmos mais de perto a parte direita do mural, no registro superior, entre Mahu e o outro dignitário (espécie de primeiro-ministro, acompanhado por um de seus altos funcionários) que, vestido de uma longa túnica, dá ao chefe de polícia a autorização para retirar os víveres dos depósitos do rei, notaremos no chão um braseiro, o que indica que a cena tem lugar de manhã cedo e no inverno. Logo abaixo, o transporte dos alimentos inspira um quadro pitoresco de grande vivacidade. E no último registro, sempre à direita, estando as vitualhas já entregues, vemos, entre outras figuras, uma camponesa confortavelmente instalada sobre um grande cesto, gesticulando e conversando com um tropeiro... É realmente fascinante tal mistura de convenção e naturalismo, a coexistência, que podemos seguir ao longo de milênios, de solenes cerimônias religiosas e monárquicas com cenas de felicidade doméstica, trabalho agrícola e artesanal, esportes e jogos - enfim, mil detalhes da vida quotidiana de nobres e plebeus.

CARDOSO, Ciro Flamarion S. O Egito Antigo. São Paulo: Brasiliense, 2010. p. 9-11.

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