"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O mundo dos espíritos: animismo e xamanismo

Reconhecendo as forças naturais e sua habilidade de afetar vidas humanas, muitas comunidades humanas primitivas desenvolveram sistemas de crenças baseados na ideia de que os mundos natural e animal eram favorecidos pelo poder espiritual (animismo). No xintoísmo essas forças são chamadas de kami, e podem ter incluído de tudo, desde cachoeiras e montanhas até divindades com características humanas como a Deusa do Sol. Entre muitos povos mesoamericanos, incluindo os zapotecas (cerca de 500 a.C. - 500 d.C.) e os maias, a noção do sopro, a brisa ou espírito animístico incorporado em forças naturais e no mundo natural foi fundamental à sua cosmologia: tudo aquilo que se move deveria ser respeitado como  o reflexo de um criador único, incorpóreo. Essas forças eram, então, personificadas como deuses ou deusas.

Xamã de uma tribo indígena da Amazônia venezuelana.

Comunidades humanas antigas também praticavam o xamanismo, crenças e práticas focadas em indivíduos com habilidades especiais que permitem a comunicação com espíritos. O xamanismo persiste no mundo contemporâneo, em lugares como a Coréia e até mesmo nos Estados Unidos e na África. Xamãs, que podem ser mulheres ou homens, que se pensava que poderiam se comunicar com outros seres antropomórficos ou espirituais em favor da comunidade por meio de transes cerimoniais. Na sociedade coreana moderna, refletindo práticas que podem ser originárias dos primeiros habitantes da península coreana, xamãs femininos realizam cerimônias para dar assistência a seus clientes que buscam ajuda com uma onda de azar ou para garantir um futuro benéfico.

Jorge Nopaltzin Guaderrama. Tradição asteca. Nopaltzin ensina as pessoas a viverem diretamente do coração, incondicionalmente.

Algumas artes rupestres têm sido interpretadas como representações das experiências xamânicas, notavelmente nos exemplos do sul da África, oeste da América do Norte e na Austrália. Entre os povos san do sul da África, acreditava-se que os xamãs influenciavam os rebanhos de elandes, um tipo de antílope que eles caçavam. Imagens de figuras antropomórficas (parte humana, parte elandes) em artes rupestres recentes e antigas podem ser referência às experiências de transes, nas quais os xamãs tornavam-se um elande. De forma semelhante, utilizando evidências etnográficas e arqueológicas, acadêmicos interpretaram artes nas pedras de 4 mil anos, da região do baixo curso do Rio Pecos no sudoeste do Texas e no norte do México, que retratavam figuras antropomórficas atravessando uma abertura em forma de um arco sinuoso que eram a representação pictográfica de uma jornada xamânica dentro do mundo espiritual.

Curandeiro Nez Perce, George Catlin.

Junto à arte rupestre, os artefatos mais antigos que oferecem uma dica sobre as ideias e práticas religiosas da América do Norte são cachimbos com figuras humanas que pareciam estar em transe, esculpidas na parte saliente. Esses cachimbos, datando de 3 mil anos atrás, provavelmente eram usados em cerimônias xamânicas nas quais fumar uma substância produzia um estado de transe que permitia que o xamã entrasse em contato com o mundo espiritual. Os cachimbos surgiram quando os construtores de altares norte-americanos começaram a erguer plataformas nas quais as cerimônias - que presumivelmente deveriam utilizar esses cachimbos - podiam acontecer no alto de grandes montes de terra.

GOUCHER, Candice; WALTON, Linda. História mundial: jornadas do passado ao presente. Porto Alegre: Penso, 2011. p. 100-101.

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