"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Uma caçada em Dolni Vestonice

Apesar de nômades, os homens do Paleolítico se fixavam por algum tempo em abrigos, que podiam ser cavernas ou cabanas. Em geral escolhiam um lugar onde a caça fosse abundante. Isso pode ser constatado no estudo feito em Dolni Vestonice, no sul da República Eslovaca. Nessa região foram encontrados restos de alimentos, como ossos, sinais de construção de cabanas e objetos deixados por grupos humanos que lá viveram. Vamos imaginar...

Estamos chegando à região no início do inverno de 25000 a.C., com as primeiras nevadas. Ao circular por ali, os homens inteligentemente observavam que todos os anos, no inverno, muitas manadas de mamutes passam por aquele lugar, seguindo em direção ao sul. Por essa razão decidiram fazer suas grandes cabanas naquele ponto.

Alguns desses animais se aproximam para beber água no rio. Apesar de grandes e combativos, um grupo de homens cerca um deles de surpresa. Encurralado, o animal é atacado pelos homens que gritam em volta dele, golpeando-o com as afiadas pontas de pedra lascada das lanças. O mamute se agita, tenta correr, mas acaba tombando, mortalmente ferido.

Em seguida, os homens abrem o animal com facas, punhais e raspadores de pedra lascada, retirando a sua carne. Grande parte dessa carne é secada ao vento ou enterrada em covas, onde se mantém congelada até o dia de ser consumida.

O mamute é um animal muito importante para esses homens. Eles comem a carne, aproveitam os ossos e as presas para construir cabanas, que cobrem com o seu couro ou o de outros animais. E, com falta madeira na região, ainda usam seus ossos para fazer fogueiras.

A caça de animais menores - lebres, raposas, aves - é realizada permanentemente, com a ajuda de armadilhas espalhadas pelo campo. Outros animais que pastam tranquilos, como renas, bisões e cavalos selvagens, também são abatidos.

A pesca nos rios da região é outra fonte de alimentos. Eles sabem que o momento mais favorável para essa atividade é quando os cardumes sobem os rios para a desova. São dias de intenso trabalho: com agilidade, os homens espetam os peixes, como o salmão, com seus arpões de três dentes, feitos de osso. Imediatamente as mulheres os limpam e os põem a secar. Esses peixes secos duram muito mais tempo e serão usados quando faltar comida.

As mulheres e as crianças também não descuidam da coleta de frutos, especialmente nozes e avelãs.

Antes de a noite chegar, o povo de Dolni Vestonice foge do frio abrigando-se dentro de suas cabanas, construídas de galhos, ossos e peles. Vestidos também com peles de animais, eles comem e se divertem, conversando e tocando suas flautas de osso em volta das fogueiras.

MARANHÃO, Ricardo; ANTUNES, Maria Fernanda. Trabalho e Civilização - Uma História Global: a humanidade em construção. São Paulo: Moderna, 2002.

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