"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Romanização da Lusitânia


Templo romano em Évora

* Conquista da Lusitânia. Desde as lutas contra Cartago, Roma dirigira sua atenção para a península Ibérica. Em fins do século III a.C. começou o lento avanço dos romanos pela península. Ocuparam o sul da Hispânia e prepararam-se para invadir a Lusitânia. Em 138 a.C. os exércitos romanos chegaram à embocadura do rio Tejo (Tagus) e, pela primeira vez, acamparam às margens do Atlântico.

Os lusitanos, chefiados por um grande guerreiro, Viriato, ofereceram violenta resistência, conseguindo rechaçar o inimigo. Com a morte de Viriato quebrou-se, porém, essa resistência e Roma iniciou a penetração do território pelas regiões do norte e do centro. Os focos de luta contra o avanço romano enfraqueceram-se a partir da queda da importante cidade de Numância (133 a.C.) e, aos poucos, toda a península Ibérica caiu em poder dos romanos. A conquista e submissão da Lusitânia custaram a Roma um século e meio de lutas (193-25 a.C.).

* Romanização da Lusitânia. Durante esse século e meio de lutas foi-se operando lentamente a romanização das regiões lusitanas, dando origem à civilização luso-romana, da qual somos em parte herdeiros. A romanização dos territórios ocupados determinou importantes transformações, sobretudo de ordem econômica e cultural.

Do ponto de vista econômico, as populações nativas, habituadas a trabalhar a terra em regime comunitário (regime que ainda hoje subsiste em certas aldeias portuguesas), passaram, sob a influência romana, a cultivar o solo em grupo de família. Surgiu assim o tipo de propriedade agrícola chamada vila, que abrangia a residência do dono, as casas dos trabalhadores escravos e dos arrendatários, estábulos, celeiros e campos.

O novo sistema de ocupação e exploração da terra modificou por completo a economia da Lusitânia que, predominantemente pastoril (criação de cabras e ovelhas), tornou-se agrícola. Dessa forma, desenvolveu-se em grande escala o cultivo da vinha, da oliveira, da cevada e do trigo; aumentou a produção de frutos e de fibras têxteis (linho).

Intensificaram-se, ao mesmo tempo, as atividades da pesca e da mineração; iniciou-se o fabrico de tijolos e de telhas (até então desconhecidas dos lusitanos); aperfeiçou-se a técnica da cerâmica. A construção, pelos romanos, de estradas e de pontes desenvolveu o comércio. Generalizou-se o uso da moeda, substituindo o primitivo sistema de simples troca de mercadorias.

Do ponto de vista cultural, os lusitanos adotaram o tipo de casa romana, abandonando as pequenas habitações de chão batido, paredes toscas de pedra, cobertas de palha ou de madeira. Foram  adotadas a língua (latim) e a religião romanas; e, no vestuário, os grosseiros trajes de lã acabaram sendo substituídos pela túnica e pela toga.

Em toda a Lusitânia construíram-se templos, teatros, circos, aquedutos, banhos públicos, e foram abertas escolas de ler e escrever.

Se, de um lado, os romanos marcaram com sua cultura e civilização o povo lusitano, oferecendo-lhe longo período de paz e desenvolvimento, de outro lado, porém, não lhe deram a projeção e a força necessárias para poder resistir à ofensiva de povos germânicos que, poucos séculos depois (V século), submeteram a Lusitânia a nova ocupação.

HOLLANDA, Sérgio Buarque de (org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1980. p. 95-96. 

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